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segunda-feira, 15 de maio de 2017

Comunidade no Sertão da Paraíba resiste à seca histórica, enchente e isolamento


“Antigamente a gente só vivia da pesca, mas desde que o açude secou não dá mais”, conta o hoje agricultor Francisco Bandeira, de 73 anos, enquanto debulha feijão de corda. Ele mora na comunidade Piranhas Velhas, berço da cidade de São José de Piranhas - Alto Sertão da Paraíba, na divisa com o Ceará. A cidade está no caminho do Eixo Norte da transposição do rio São Francisco.
A comunidade, com cerca de cem famílias, já enfrentou uma enchente do Rio Piranhas há mais de 50 anos, secas históricas - como a atual, que já dura cinco anos - e enfim tem abastecimento de água, após receber a doação de um poço artesiano no final de abril, feita por uma ONG.
O açude a que Francisco, ou Seu Chico - como gosta de ser chamado -, se refere é o Boqueirão de Piranhas, ou barragem Engenheiro Ávidos. De acordo com o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs) - que construiu a barragem quando ainda era Inspetoria Federal - a barragem cobre uma área de 1.124 km², se tornando a bacia de água mais importante da região, barrando o rio Piranhas.
Segundo o Dnocs, o rio Piranhas teve uma cheia em 1963, arrastando a lâmina de água do rio para dentro da cidade de São José de Piranhas - fazendo com que a cidade fosse levada para cerca de dez quilômetros de sua localização original. Onde ocorreu a cheia, a comunidade Piranhas Velhas têm sobrevivido às dificuldades do isolamento e resistido ao tempo: "estou aqui desde 1965", ressalta seu Chico - também um de seus mais antigos moradores.
Isolamento
Numa estrada de terra com cerca de dez quilômetros, que passa por uma parte do rio Piranhas sem ponte, os moradores de Piranhas Velhas têm que se deslocar para chegar a São José de Piranhas - cidade que fica a mais de 500 quilômetros de João Pessoa. A comunidade além de enfrentar o problema natural da seca, ficou sem ter como acessar a água dos próprios poços, pois a bomba que os moradores se juntaram para comprar foi roubada.
Os caminhos já são dificultados até mesmo no acesso à cidade. A PB-400, que é o acesso para São José de Piranhas através de Cajazeiras, é repleta de buracos e não tem acostamento. Durante a noite, sem iluminação alguma, várias pessoas que moram nas cidades à beira da estrada se aventuram na rodovia para se descolar de um canto a outro da cidade - até mesmo a pé.
Apesar da distância e da dificuldade no acesso, Piranhas Velhas tem sinal de Internet e os alunos da escola municipal recebem aulas também via educação à distância (EaD). O posto de saúde da comunidade recebe um médico duas vezes por semana e um odontologista três vezes.
Falta de água
A realidade, hoje, assusta. A água que antes “batia nas costas” das casas, como diz seu Chico, está a mais de três quilômetros de Piranhas Velhas, segundo os locais. “Quando tava cheio tinha um balneário aqui perto que quando ‘dava’ o fim de semana enchia de gente”, lembra Francisco Bandeira, que chegou lá em 1965.

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