ACADEMIA

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Um dos peixes mais consumidos no interior de Pernambuco, a Tilápia é estudada como antibiótico natural


Os primeiros passos para o desenvolvimento de um antibiótico natural, capaz de combater infecções em seres humanos causadas por bactérias agressivas, já podem estar sendo conduzidos pelos testes realizados no Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (Lika) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ao lado do cirurgião plástico Marcelo Borges, idealizador da pesquisa conhecida mundialmente por examinar a pele da tilápia (principal espécie de peixe produzida no Brasil em 2016, com 239 mil toneladas, segundo o IBGE), um grupo de pesquisadores do Lika investiga a possibilidade de essa pele travar uma guerra contra micro-organismos que oferecem riscos à saúde.
A busca por essa resposta só está sendo possível porque, ao se mostrar eficaz no tratamento de queimaduras superficiais e profundas, o curativo feito com a pele de tilápia possibilitou o bloqueio de problemas infecciosos causados pelas lesões. O acompanhamento foi feito por pesquisa que envolveu mais de 100 pacientes do Instituto Doutor José Frota, em Fortaleza. “Nenhum apresentou infecções como complicação da queimadura e houve encurtamento no tempo de cicatrização, em até dois dias e meio, proporcionado pelo curativo, em comparação com o grupo que fez tratamento convencional, com creme de sulfadiazina de prata 1%, oferecido pelo SUS”, destaca Marcelo Borges, professor da Faculdade de Medicina de Olinda. 
RESISTÊNCIA
O médico destaca que esses resultados o levaram a deflagrar o segundo passo da pesquisa. “Ao revisar a literatura da piscicultura, percebi que a tilápia é um peixe extremamente resistente a contrair doenças, e isso despertou minha atenção. Aprofundei os estudos e vi que vários peixes têm sido estudado por ter pele com peptídeos (espécie de proteína em miniatura), identificados como protetores dos peixes”, explica. Marcelo Borges sublinha que esse mecanismo torna os peptídeos elemento de parte do que se conhece como resposta imunológica inata – ou seja, da defesa imunológica própria dos peixes. 
Essa resistência contra doenças, encontrada na pele da tilápia, leva pesquisadores do Lika a examinar hipóteses. “Será que essa proteção, dada pelos peptídeos aos peixes, poderia ser replicada para humanos? Para responder, é preciso testar a possível eficácia desses peptídeos no combate à infecção por bactérias patogênicas (causam doenças em humanos)”, destaca o cirurgião plástico.
PILOTOS
Os dois primeiros estudos pilotos no Lika trouxeram resultados animadores. Na análise, verificou-se que a pele da tilápia irradiada apresentou atividade antimicrobiana diante de 12 bactérias patogênicas humanas, com destaque para a Escherichia coli, a Staphylococcus aureus e a Acinetobacter baumannii – as duas últimas aparecem na primeira lista de micróbios resistentes a antibióticos mais perigosos à saúde humana, divulgada este ano pela Organização Mundial de Saúde (OMS). 
O cirurgião Marcelo Borges ressalta que outros estudos, em andamento, são necessários para confirmar os achados dos estudos pilotos. Entre as próximas etapas, segundo Marcelo Borges, está a extração dos peptídeos presentes na pele desse peixe para avaliação quantitativa das possíveis atividades contra micro-organismos. Ele acrescenta que o estudo também tem como objetivo comparar peptídeos da pele da tilápia in natura com a pele irradiada – aquela que passa por processo capaz de exterminar organismos vivos, como vírus, para ser aplicada nos pacientes voluntários da pesquisa. “A intenção é analisar se os peptídeos permanecem preservados, na pele irradiada, com a potencial ação antimicrobiana”.

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