ACADEMIA

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Carteirinha digital do governo pode enfraquecer movimento estudantil


Quase dois meses após o lançamento da ID Estudantil, a carteirinha digital de estudante emitida pelo Ministério da Educação (MEC), mais de 175 mil alunos já baixaram o recurso nos aplicativos criados para isso, disponíveis para iOS e Android. Com custo zero, o ID Estudantil pode ser emitido por qualquer aluno regularmente matriculado nos ensinos básico, tecnológico e superior e garante a meia-entrada em diversas atrações culturais, como cinema, teatro e shows.
Por enquanto, apenas os alunos de pós-graduação não são contemplados. “Precisamos fazer integrações que ainda não foram realizadas, mas o objetivo é incluir os alunos desses cursos também”, diz Daniel Rogério, diretor de Tecnologia da Informação do Ministério da Educação. O ID Estudantil está disponível para os estudantes desde o final de novembro do ano passado.
Essa carteirinha digital cumpre a mesma função daquelas emitidas oficialmente por entidades de representação estudantil, como a UNE (União Nacional dos Estudantes) e a UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), garantindo o direto do estudante à meia-entrada. A diferença é que as carteiras fornecidas por essas entidades são impressas e têm o custo de R$ 35 para o aluno.
De acordo com Daniel Rogério, um documento não invalida o outro. Diante da gratuidade da ID Estudantil, levanta-se a dúvida sobre a continuidade, a longo prazo, das carteirinhas emitidas pelas entidades de representação estudantil e de como isso pode impactá-las financeiramente, pois a receita proveniente dessas carteirinhas é uma fonte de renda importante para essas entidades.
“Ainda não tivemos condições de avaliar o impacto da ID Estudantil sobre o número de carteirinhas emitidas, porque os alunos começam a fazer os pedidos agora, no início do ano”, diz Iago Montalvão, presidente da UNE. “Mas é claro que o impacto certamente vai ser considerável. É a nossa maior fonte de receita, o restante que recebemos vem de apoios, eventos, convênios. A estrutura, a coluna vertebral, são as carteiras. Por isso, o ID Estudantil, sendo de graça, afeta diretamente as entidades estudantis”, acrescenta ele.
Questionado sobre o futuro das carteiras estudantis e um possível impacto negativo sobre a renda obtida com elas, Iago acredita que as entidades podem até balançar, mas não irão cair. “Não acho que vão conseguir destruir totalmente as entidades de representação estudantil ou tirar a força da carteirinha de estudante. Além do benefício da meia-entrada, tem muita gente que faz a carteira porque gosta, por um posicionamento político”, diz Iago.
Com base nisso, uma das medidas adotadas pela UNE e outras entidades após o lançamento do ID Estudantil é reforçar a divulgação da carteira emitida por eles, mostrando que, quando o estudante a compra, ele contribui com a luta por seus direitos. Além disso, o presidente da UNE afirma que outras inovações estão em estudo, como fornecer a carteira emitida por eles também na versão digital. “Importante lembrar também que um estudante considerado de baixa renda pode pedir a carteira de estudante de graça”, diz Iago.

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