ACADEMIA

terça-feira, 25 de junho de 2024

Ex-estudantes convivem com dívida do Fies na espera de prestação cair: ‘Nunca paguei uma parcela’

 


Formada em Ciências Contábeis desde 2020, Juliana* nunca pagou uma parcela sequer do Financiamento Estudantil (Fies). Ela já possui renda fixa mensal decorrente de um emprego na área em que se graduou. Ainda assim, mesmo com a possibilidade de renegociar a dívida pelo Desenrola Fies, prefere esperar para que o valor da parcela caia ainda mais.

“Dentre todas as prioridades que eu tinha, pagar o financiamento era a última delas. Eu coloquei numa caixinha de esquecimento e preferi fingir que aquilo não existia”, relembra.

Juliana conta que se formou durante a pandemia e que a parcela de quase R$ 600 não cabia em seu orçamento naquele momento. O valor representava cerca de 30% do salário que recebia na época, mas tendo que ajudar a mãe nos gastos de uma casa com mais dois irmãos, que ainda não trabalhavam, era impossível tirar aquele dinheiro todo mês.

Agora, a sua dívida chega a R$ 77 mil. Na simulação de renegociar pelo Desenrola, Juliana conseguiu uma oferta de pagar a partir de R$ 1.200 mensais, mas optou por declinar. “Eu ainda não acho que é justo. Então, eu estou esperando baixar um pouco mais, uma parcela um pouco mais atrativa, mais parecida com o que eu deveria ter pagado no começo”, diz.

A situação de Juliana acontece com outros estudantes. Rian*, que está se formando em Farmácia, conta que nem tem ideia de em quanto está sua dívida com o Fies. Mesmo sem ainda ter concluído a graduação, ele já completou os quatro anos firmados em contrato para iniciar o pagamento do Fies.

Antes, Rian pagava trimestralmente a taxa de R$ 150, referente aos juros incidentes sobre o financiamento. Este valor é cobrado durante todo o período de utilização do Fies na graduação. Porém, durante a pandemia, ele não conseguiu continuar com os pagamentos, por ter ficado desempregado e também deixado de estudar por um período. “Eu devo estar inadimplente, acho que estou devendo mesmo”, afirma.

O que fazer em caso de inadimplência do Fies

Deixar a dívida rolar é a pior opção, segundo o planejador financeiro Alexandre Santiago. Ele explica que, mesmo que não pareça no dia a dia, as dívidas impactam, sim, na vida do inadimplente.

“Existe um mito de que as dívidas caducam depois de cinco anos. O que acontece, na verdade, é que depois de cinco anos que o seu nome que está ali, com restrição a crédito, na lista da Serasa, vai sair dessa lista e você vai poder, novamente, estar contratando alguma avaliação de crédito. Mas, esse registro vai continuar num histórico que os prestadores de crédito vão ter acesso. E você pode ser cobrado judicialmente por esses débitos que você teve”, afirma.

A dica que Alexandre Santiago dá é para que a pessoa negocie a dívida assim que possível. Não é nem preciso quitá-la, apenas o fato de começar o pagamento das parcelas já faz com que seu nome seja retirado da lista de inadimplentes. É o que fez, por exemplo, a vencedora do BBB, Amanda Meirelles.

A médica contou em entrevista ao Sala de TV, transmitido pelo Terra, que preferiu negociar a dívida, mas não quitá-la, mesmo tendo dinheiro para tal. Amanda, então, passou a reinvestir o dinheiro, com rendimentos superiores aos juros do Fies.

A postura é aprovada pelo planejador financeiro Santiago. “Quando a gente vai investir, a gente tem que ver o custo de oportunidade. Se eu estou pagando um juros que, digamos, é muito baixo, e o custo do Fies é um custo de juros subsidiado pelo governo, e se eu consigo, com esse mesmo dinheiro, um retorno maior, faz sentido pagar parcelado”, observa.

Mesmo com a dívida que, agora parece tão distante de ser quitada, os estudantes ouvidos pelo Terra não se arrependem de forma alguma de terem optado pelo Fies. Eles contam que o financiamento lhes deu oportunidade de cursar uma graduação em instituições privadas das quais se orgulham de terem passado.

“Foi uma possibilidade de ingressar numa faculdade muito boa, conhecer pessoas de uma realidade totalmente diferente da minha e foi meio que uma catapulta, sabe? Eles me alavancaram para um outro patamar, o qual, no meio social em que cresci, não seria possível alcançar”, considera Juliana.

Fonte: Terra

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