sábado, 22 de fevereiro de 2025

“A omissão da sociedade leva à morte”, diz especialista em segurança pública sobre caso Arthur

 

Com o caso que chocou o Estado de Pernambuco no desde o último domingo (16), quando uma criança de 2 anos, identificada como Arthur Ramos Nascimento, foi agredida até morte em Tabira, mais um alerta precisa ser acendido na sociedade: o da denúncia de violências domésticas.

Diante desse contexto da violência doméstica, que muitas vezes pode parecer silenciosa por acontecer dentro de casa, é importante que a sociedade como um todo se una em prol da proteção de grupos vulneráveis ameaçados como idosos, mulheres, e principalmente, as crianças, pois a denúncia pode salvar vidas. É o que explica a Especialista em Segurança Pública e Policial Civil, Amanda Lira, que conversou com o Diario de Pernambuco sobre o tema.

O problema da omissão

Para Amanda, a omissão das pessoas nesses casos é determinante para as consequências negativas na vida das vítimas.

“O principal problema da omissão da sociedade é justamente que essa omissão é fatal. Ela leva à morte, quando não leva à morte, leva à uma destruição da infância. Então a gente tem que entender que a nossa omissão, o nosso silêncio, a nossa postura de não querer tomar partido, de não querer se envolver, a nossa postura do deixa para lá, ela tem uma consequência muito séria quando envolve criança e adolescente”.

Segundo ela, há a vulnerabilidade da mulher, da pessoa idosa, mas há um grupo ainda mais crítica. “As crianças são vulneráveis pela idade, por muitas vezes não terem capacidade de verbalizar violência, não compreender a violência, por estar sendo vítima, por quem deveria proteger”, disse a policial.

A importância da denúncia

Amanda explica que o primeiro canal de denúncia é delegacia mais próxima. “Se tem dificuldade de ir até a delegacia, procure o Conselho Tutelar, procure uma Secretaria da Mulher, procure uma Coordenadoria da Mulher, mas algum canal de autoridade pública deve ser de imediato procurado”, disse a policial ao falar sobre como as denúncias devem ser feitas em caso de conhecimento de situações de violência doméstica.

“Se ainda assim a sociedade não quer denunciar de forma mais aberta, não quer ir até a delegacia, existe um canal de denúncia que é o Disque 100, um número nacional. Essa denúncia será relatada e levada para a delegacia da área. Nesses canais pode-se dar todos os detalhes, o endereço correto, o nome da vítima, o nome do suposto, quanto mais detalhes nessa denúncia, vai ajudar a salvar vidas”, completou.

“Justiça popular”

Voltando ao caso Arthur, um dos suspeitos pela morte de Arthur, Antonio Lopes Sever, foi linchado até a morte pela população local, pela revolta envolvendo toda a violência praticada contra a criança. Não é a primeira vez em que pessoas comovidas pela crueldade dos casos acabam praticando uma “justiça popular”.

Amanda também explicou como a omissão muitas vezes é seguida dessa tentativa popular de fazer “justiça” com as próprias mãos, e da importância da ação da sociedade para que a justiça do Estado seja feita.

“A forma como foi conduzida a vida de Arthur, ela foi cercada de erros e omissões. No mais, o linchamento que aconteceu da população vem dessa sensação de impunidade, de insegurança, de que não vai dar em nada. Isso acaba muitas vezes incitando a população. É preciso também levar uma reflexão a cada um que é responsável por isso também colocar a mão na consciência e ver até que ponto nossas instituições está cumprindo o seu papel, porque a lei existe. Talvez o que não existe é a aplicação efetiva dessa lei e políticas públicas que façam essa lei efetivamente funcionar”, destacou.

De acordo com a especialista em segurança pública, o que aconteceu no Sertão pernambucano ocorre na maioria dos casos que envolve criança e adolescente. “É a omissão de quem está perto, é a falta de sensibilidade com as dores da criança. Então, isso eu acho que é o ponto principal que chama a atenção, no caso de Arthur, é essa questão da justiça com as próprias mãos feita pela sociedade, isso passa muito também pela situação de insegurança e impunidade, que a população sente, também com uma sensação talvez de culpa de não ter feito o que devia, lá atrás, quando deveria ter denunciado”, adicionou.

Em casos de omissão, a pessoa que deixou de recorrer à justiça pela criança pode ser entendida como conivente para o Estado, comentou Amanda.

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