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domingo, 25 de novembro de 2018

No Itamaraty, posições de futuro ministro das Relações Exteriores causam surpresa


Por trás do aguerrido cidadão que publicou textos polêmicos, como o artigo no qual afirma que só o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é capaz de “salvar o Ocidente”, e os escritos combatendo o “globalismo” e chamando o PT de Partido Terrorista, há uma pessoa afável, discreta, ágil ao executar tarefas, pragmático e solidário. Essas são algumas características apontadas por colegas de trabalho que estiveram com o diplomata Ernesto Araújo durante quase 30 anos de serviço público. Para quase todas essas pessoas, as posições do futuro chanceler, expressas no blog Metapolítica e no ensaio que escreveu para a revista Cadernos de Política Exterior, foram uma surpresa.
— Ele sempre foi ponderado no dia a dia e muito discreto. Não conhecia esse lado dele, disse um diplomata que serviu com Araújo na embaixada brasileira em Washington.
A maior parte dos diplomatas que leram o artigo “Trump e o Ocidente” estranhou as expressões usadas por Ernesto Araújo, que falava sobre heróis, ancestrais, alma da nação, família e fé em Jesus Cristo. Muitos passaram a chamá-lo de “trumpista”. Alguns não se conformaram, um ano depois, com a escolha de Araújo pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, para assumir a chancelaria poucos meses após ele ser promovido à patente de embaixador.
Genro do ex-embaixador Seixas Correia, que, entre outros cargos, foi secretário-geral do Itamaraty e representante do Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC), o chanceler escolhido por Bolsonaro tem 51 anos, nasceu em Porto Alegre e chegou a ser o número 2 na embaixada do Brasil nos EUA, quando o então embaixador Mauro Vieira deixou a função para assumir o comando do Itamaraty, em janeiro de 2015.
— Ele é habilidoso no trato com as pessoas. Gosta de ver resultados e mantinha boas relações com autoridades americanas, afirma outro colega.
Essas boas relações o ajudaram quando esteve à frente do Departamento de Estados Unidos, Canadá e Assuntos Internacionais do Ministério das Relações Exteriores. Com os americanos, de acordo com um graduado diplomata, as conversas nem sempre foram fáceis, como as negociações para o uso da base de Alcântara, no Maranhão, para o lançamento de satélites.
— Nossa convivência nos leva a crer que esse alinhamento com os EUA não deve ser automático, diz essa fonte.
Além dos EUA, o futuro chanceler serviu na Comissão Europeia, na Bélgica; na Alemanha e no Canadá. Em 2004, durante as negociações entre Mercosul e União Europeia — que até hoje não foram concluídas, Araújo participou das conversas. Segundo um colega, ele era “quieto, firme e demonstrava exatamente o que queria”. Outra característica sua apontada por diplomatas que trabalharam com Araújo é sua rapidez na produção de informes, notas e relatórios.
Desde que seu nome foi anunciado por Jair Bolsonaro, no último dia 14, Ernesto Araújo optou pelo silêncio. Não dá entrevistas, mas abriu uma conta no Twitter para dar seus recados. Um deles foi uma resposta ao ex-chanceler Celso Amorim. Ele havia declarado que a escolha do presidente eleito para o Itamaraty seria um “retorno à Idade Média”. Araújo avisou que buscaria “possíveis falcatruas” supostamente praticadas nos governos petistas.
Em sua conta na rede social, ele relata reuniões que mantém com outros integrantes do grupo de transição, como os futuros ministros da Justiça e Segurança Pública (Sergio Moro), da Agricultura (Tereza Cristina) e de Ciência e Tecnologia (Marcos Pontes), e uma série de embaixadores.  
Uma pauta cheia
Assim como o futuro ministro da Educação, Ricardo Vélez-Rodriguez, a escolha de Ernesto Araújo teve a influência do filósofo Olavo de Carvalho, guru do bolsonarismo. A expectativa é que os escritos de Araújo, que assombraram intelectuais de esquerda, jornais especializados e organizações não-governamentais do mundo todo, não contaminem sua atuação como diplomata.
A partir de janeiro, Araújo terá desafios importantes a enfrentar. Entre os temas a serem tratados, estão a situação na Venezuela, a atuação do Brasil frente aos acordos para a redução de emissões de gases que provocam o efeito estufa, o tratamento a ser dado à China e as relações com os países árabes, após Bolsonaro declarar que iria transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.

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