Editorial da Folha de São Paulo
Na violência cega de um acidente aéreo, perdeu-se uma das personalidades mais promissoras da vida política nacional.
Aos 49 anos, Eduardo Campos vinha de uma bem avaliada gestão no governo de Pernambuco para representar, na disputa à Presidência da República, o difícil e estimulante papel de alternativa à tradicional polarização entre petistas e tucanos no plano federal.
Seu perfil o habilitava de forma singular para esse desafio, embora a própria campanha –tragicamente interrompida– tivesse ainda de desenhá-lo com mais nitidez.
Neto, por parte de mãe, do mitológico líder esquerdista Miguel Arraes, de quem foi secretário da Fazenda nos anos 1990, Campos tinha, pelo lado paterno, ligações com os setores mais conservadores da política local.
O lastro de herdeiro de Arraes não o impediu de procurar caminhos próprios na cena pernambucana –do mesmo modo que, ex-ministro da Ciência e Tecnologia durante o governo Lula, percebeu que suas perspectivas seriam limitadas caso seu partido, o PSB, se mantivesse por mais tempo à sombra do situacionismo petista.
Escorado nos altos índices de crescimento econômico obtidos em seu período como governador, bem como numa visão administrativa sem ranços ideológicos, Campos procurou aproximar-se do empresariado, adiantando-se em relação ao mineiro Aécio Neves (PSDB) na disputa pelo campo de oposição à presidente Dilma Rousseff (PT).
Ao mesmo tempo, sua candidatura buscava desvincular-se de uma imagem excessivamente industrialista, dada a presença de Marina Silva como vice.
Para a postulação de Eduardo Campos confluíam tendências diversas, capazes de consolidar seu nome como fator de inovação diante dos dilemas nos quais se tem debatido a política brasileira nas últimas décadas. Capazes também, todavia, de minar a própria coerência interna de sua campanha e de um eventual governo.
A tragédia de ontem –que vitimou outras seis pessoas– impõe, naturalmente, uma dor e um choque sem limites a familiares e amigos do candidato. Pai de cinco filhos, um dos quais nascido há pouco mais de seis meses, Campos aparentava possuir, mesmo para o grande público, os sinais inconfundíveis do bom humor, da disposição e da felicidade pessoal.
Na política, ficam irrespondidas as perguntas sobre seu futuro e sobre a forma final que assumiria a candidatura peessebista no espectro ideológico.
O próprio PSB, agora, colocado ante a escolha de Marina Silva, que soa óbvia, e a de um nome mais ligado à cúpula do partido, terá de haver-se com encruzilhadas e definições que a hábil empatia de Eduardo Campos provavelmente lhe permitia postergar.
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