ACADEMIA

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Em resposta a declarações de Bolsonaro, Congresso vai reforçar agenda própria


A escalada de ataques do presidente Jair Bolsonaro a adversários e instituições nos últimos dias, além da releitura de fatos históricos, vão reforçar a disposição do Congresso em tocar uma agenda própria no segundo semestre. Após o próprio presidente dizer que não vai mudar seu “jeito”, líderes partidários planejam atuar à revelia de Bolsonaro. A intenção é priorizar a agenda econômica e reagir pontualmente a propostas do Executivo que considerem extemporâneas. Parlamentares voltam do recesso e retomam os trabalhos na próxima semana.
Em meio à série de polêmicas provocadas por declarações de Bolsonaro, políticos aproveitam para marcar suas posições, como uma antítese do Planalto. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), gravou um vídeo em que defende a liberdade de expressão. As imagens foram exibidas em ato de apoio ao jornalista Glenn Greenwald, do site Intercept Brasil, um dos alvos do presidente da República. Bolsonaro chegou a dizer que Greenwald poderia “pegar uma cana” no Brasil por ter publicado supostas conversas entre o ministro da Justiça, Sergio Moro, e procuradores da Lava-Jato.
Parlamentares também se solidarizaram com o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, por meio de mensagens e telefonemas. Apesar de documentos oficiais, Bolsonaro negou que seu pai, Fernando Santa Cruz, desaparecido durante a ditadura militar, tenha sido morto por órgãos da repressão. Segundo o presidente, ele foi morto em um “justiçamento” da esquerda. A maioria dos líderes do centrão e os presidentes da Câmara e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), no entanto, preferiram não rebater publicamente os ataques de Bolsonaro a Santa Cruz.
Um dos principais nomes do PSDB no Senado, José Serra (PSDB-SP) afirma que as declarações recorrentes do presidente só contribuem para atrapalhar a relação com o Congresso. O Senado deve receber neste mês a proposta de reforma da Previdência, após votação em segundo turno na Câmara.
— O governo parece estar dando nós em pingo d’água com declarações que só dificultam sua situação no Congresso.
O líder do DEM na Câmara, Elmar Nascimento (BA), afirma que os deputados devem se concentrar na votação da agenda econômica, independentemente das polêmicas criadas pelo governo:
— A única coisa que posso dizer sobre o presidente (Bolsonaro) é que ele não é estelionatário. Ele não mudou. Ele é a mesma pessoa que passou 28 anos na Câmara.
Na manhã desta quarta-feira (31), Bolsonaro disse que não está preocupado com acusações de que cometeu quebra de decoro ao dar nova versão sobre fatos ocorridos na ditadura:
— Não tem quebra de decoro. Quem age dessa maneira (acusando de quebra de decoro), perde argumento.  
Reformas
Para o vice-presidente da Câmara, Marcos Pereira (PRB-SP), o Congresso precisa acelerar as reformas, apesar das repercussões negativas de declarações recentes de Bolsonaro, como ataques a governadores do Nordeste e contestação de dados históricos da ditadura:
— O Congresso vai buscar cumprir a agenda reformista que o país precisa para gerar emprego e renda.
O líder do PP na Câmara, Arthur Lira (AL), um dos principais nomes do centrão, vai na mesma linha. Para ele, as votações seguirão em paralelo às polêmicas criadas pelo governo.
— O Congresso tem de seguir o caminho dele, sem entrar nessas polêmicas. Esse oxigênio só alimenta a discórdia e não leva para canto nenhum, afirmou Lira.
Um dos planos de Bolsonaro que provocam reação no Congresso e revelado na entrevista é o de criar “pequenas Serras Peladas” no Brasil, que poderiam ser exploradas tanto por grupos estrangeiros como por povos indígenas.
— Ele demonstra querer atividade da mineração criminosa, desrespeitando povos indígenas e o meio ambiente, diz o Senador, Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
No fim da tarde de ontem, Bolsonaro recebeu o ministro do STF Luiz Fux e brincou sobre a necessidade de aparar arestas.
— É o futuro presidente do Supremo. Tenho que começar a namorá-lo a partir de agora, declarou, dando risada.

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