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segunda-feira, 26 de junho de 2017

Construído por Gonzagão, Parque Aza Branca corre risco de fechar por falta de verba


Proprietário do maior acervo da vida e da obra de Luiz Gonzaga, o Parque Aza Branca, localizado no município de Exu, no Sertão pernambucano, enfrenta situação de penúria para manter acesa a memória do músico. Com dificuldades para arcar com as despesas e sem manutenção, o espaço, construído pelo próprio Gonzaga na terra natal, corre o risco de fechar as portas neste ano. O alerta é feito pelo presidente da ONG Parque Aza Branca, que desde 2000 administra o equipamento cultural, Junior Parente.
As únicas fontes de renda do museu, atualmente, são a venda de ingressos (R$ 8 e R$ 4) e a comercialização de lembrancinhas aos visitantes. "Durante um período, esse dinheiro era suficiente, ele chegou a dar e sobrar. O problema é que há mais de um ano a gente tem um déficit mensal no caixa", explica Junior. A organização conta com dez funcionários no quadro, entre guias, faxineiros e seguranças, e tem um gasto mensal de cerca de R$ 20 mil. Mas arrecada em torno de R$ 17 mil nos meses de maior movimento - junho, julho, dezembro e janeiro. No dia em que a reportagem esteve no museu, um sábado de maio, apenas um casal visitava a casa que pertenceu ao ícone sertanejo.
A salvação para os últimos meses é uma reserva financeira criada nos tempos de bonança. "Na época de celebração do centenário de Luiz Gonzaga, em 2012, nós recebemos um grande fluxo de visitantes e conseguimos realizar uma poupança. É com este montante que temos coberto os gastos", explica Parente. Ele afirma que precisará fechar parcialmente. Neste ano, o bilhete de acesso ao museu dobrou de valor para tentar equilibrar o caixa.
Uma das principais preocupações do presidente da ONG é a manutenção da estrutura física do parque, que conta com 3,7 hectares e abriga além do museu dedicado à obra de Gonzaga, a casa que o músico construiu e morou em seus últimos anos e o mausoléu onde estão depositados os restos mortais. "A gente vem passando por um período de quase quatro anos de seca, o que é muito ruim para o nosso povo. Mas, por outro lado, se estivesse chovendo, é provável que o muro já tivesse caído e as pinturas se deteriorado", diz Junior, recordando, que na última chuva, o mausoléu chegou a ficar alagado por goteiras no telhado.
"Nós fizemos um orçamento para a realização da pintura do espaço e de algumas reformas estruturais nos telhados e deu mais de R$ 30 mil, nós não temos como pagar por isso", afirma. "É obrigação do estado auxiliar na preservação do museu. Há, por parte deles, a alegação de que se trata de uma propriedade particular, mas é um local que tem uma grande função social e todo o simbolismo por ser a casa de Gonzaga", continua.
Outro temor recorrente é em relação à preservação dos objetos que constituem o espaço expositivo do museu. "Na época da celebração do centenário, agentes do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) estiveram aqui e fizeram algumas limpezas. Também deram orientações básicas para os funcionários. A gente tenta, do nosso jeito leigo, cuidar da melhor maneira possível das peças", diz.
A galeria é composta por fotografias da família, prêmios recebidos por Gonzaga, manuscritos, cartazes publicitários estrelados pelo músico e instrumentos, entre outros objetos raros do artista. Na seção de instrumentos, o público pode conferir três acordeons e uma sanfona de oito baixos empunhados por ele, assim como a sanfoninha de Januário e a corneta utilizada por Luiz quando ingressou no exército. Apesar de as peças serem zeladas, Junior Parente acredita que falta o acompanhamento de um profissional especializado para fazer restaurações e cuidar da manutenção periódica. "O ideal é que essa visita ocorresse, ao menos, uma vez por ano", aponta.
Em 2009, o Parque Aza Branca foi tombado como Patrimônio Histórico e Cultural de Pernambuco pela Fundarpe. A última reforma geral ocorreu no final de 2013, custeada pelo governo estadual. Porém, segundo o gestor do parque, a empresa responsável pelo trabalho realizou uma obra de qualidade ruim. Procurada pela reportagem, a Fundarpe alegou que não haveria tempo hábil para se manifestar.
CURIOSADADES
Loja - Os visitantes acham lembretes de R$ 5, como um chaveiro com a imagem de Luiz, a R$ 120, réplica do chapéu de couro utilizado pelo músico.
Sangue - No destaque do acervo, o acordeom branco e a camisa manchada de sangue usada por Luiz Gonzaga em encontro com o papa João Paulo II, em julho de 1980. Na ocasião, uma multidão invadiu o estádio Castelão, em Fortaleza, e o músico chegou a ser derrubado e pisoteado pelos fiéis.
Fundação - O museu foi criado pelo cantor, mas só inaugurado após a morte, em 1989, por Gonzaguinha. Depois do falecimento do filho, o imóvel foi comprado por um empresário e herdado pela família. A sugestão de transformar em ONG foi dada por Gilberto Gil, em 2000, em visita a Exu.
Retorno - Em 1982, Gonzaga lançou O rei volta pra casa, logo após fincar residência na terra natal. Na capa, ele aparece com a ave asa branca em frente ao terreno onde foi erguido o museu.

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