ACADEMIA

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Paixão em linha reta: os 10 maiores casos de amor próprio do pernambucano


Por Felipe Betim/EL PAÍS
Se você decidiu neste verão visitar Pernambuco, saiba que este estado nordestino é muito mais do que as belas praias de Porto de Galinhas, mais do que os lindos bairros históricos de Olinda e Recife, mais do que o agitado carnaval de rua... Para os pernambucanos, é tudo isso elevado à enésima potência.
Ao chegar à capital Recife, um simples bate-papo com um morador revelará um povo que gosta de exaltar determinados feitos ou características próprias — às vezes num tom de brincadeira, às vezes num tom mais sério, mas sempre como sinal de boa autoestima. Pode ser uma construção, uma atividade cultural, um hábito... Você poderá escutar, por exemplo, que a Avenida Caxangá foi durante muito tempo “a maior avenida em linha reta do Brasil” ou que o Instituto Ricardo Brennand é “o maior museu de armas brancas do mundo”. E atenção: não se trata de meros exageros, mas sim de realidade na maioria dos casos.
Antônio Paulo de Morais Rezende, professor de História da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), acredita que esta característica do pernambucano de exaltar aquilo que lhe pertence reflete “a construção do imaginário coletivo social”. Ele explica que o Estado de Pernambuco, hoje muito pobre e muito desigual, foi a principal referência durante a maior parte do período colonial. “A cana de açúcar foi a maior riqueza da colônia e o produto que mais deu dinheiro para Portugal. Então aqui a escravidão foi muito forte e a luta pela autonomia foi muito forte... A minha interpretação histórica é que isso pode ter criado certa vaidade, uma memória coletiva de luta, de resistência”, explica ele.
Pernambuco foi, de fato, rebelde durante o período colonial e imperial: em 1817, uma série de revoltas separatistas desembocou na Revolução Pernambucana, que chegou a instituir uma república independente; em 1824, logo após a independência do Brasil, líderes pernambucanos proclamaram a Confederação do Equador, que buscava reunir as províncias de Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí; em 1848, a Revolução Praieira também pregava ideais republicanos. Paralelamente, a decadência da cana de açúcar provocou a mudança do eixo econômico para o sul e Sudeste. E, como consequência, “a historiografia passou a destacar muito mais o que aconteceu no Sudeste e passou a se omitir em relação a certas coisas que aconteceram” em Pernambuco, diz Rezende. Assim, a exaltação é também “uma forma de resistência, de dizer que algo aqui é maior”. Cabe destacar que Pernambuco, em especial a capital Recife, permaneceu ao longo do tempo como um dos principais polos culturais e de vanguarda do país.

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