Quando
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu a primeira eleição para a
Presidência da República, em 2002, deputados americanos do Partido
Republicano alertaram o então presidente dos Estados Unidos, George W.
Bush. Temiam a formação de um "eixo do mal" na América Latina, com a
combinação de Lula com o venezuelano Hugo Chávez e o cubano Fidel
Castro. Os argumentos alimentavam especulações de calote no mercado
financeiro. Assim que as urnas foram apuradas no Brasil, a futura
relação de Lula e Bush foi desenganada por políticos, analistas e a
imprensa internacional diante de perfis políticos tão distintos: um
ex-sindicalista e um conservador. Os anos seguintes mostraram o
contrário: os dois conduziram o melhor momento das relações entre os
dois países. Os Estados Unidos mudaram o status da sua relação com o
Brasil, passando a reconhecê-lo como uma potência emergente.
Essa
inversão de expectativas só foi possível por causa de 18 dias intensos
de uma ofensiva diplomática comandada, sem alarde, por Lula e pelo então
presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) nos bastidores da transição
entre os dois governos. A inusitada cooperação entre tucanos e
petistas, sob a liderança de dois presidentes, é contada no livro "18
Dias", de Matias Spektor, que será lançado nos próximos dias pela
Objetiva.
Doutor
em Relações Internacionais por Oxford (Inglaterra) e professor de
Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas, Spektor pesquisou
arquivos como os do Itamaraty e do Departamento de Estado americano por
quatro anos para reconstituir os passos da força-tarefa entre o
telefonema que Lula recebeu de Bush no dia seguinte à sua eleição e o
convite oficial para uma visita à Casa Branca, que aconteceu em 10 de
dezembro de 2012.
BRASIL PASSOU A SER ALIADO PREFERENCIAL
Lula
foi considerado ousado pelos diplomatas dos dois países ao pedir
diretamente a Bush, ao telefone, um encontro ainda antes da posse. Ele
tinha pressa em convencer que não era o bicho-papão pintado pelos
republicanos. O desafio era atrair a atenção de Bush, mais envolvido com
o terrorismo e as ações militares no Oriente Médio, para reduzir as
desconfianças do mercado, que apostava forte contra a moeda brasileira. A
desvalorização do real ameaçava o legado que Fernando Henrique tinha a
deixar para Lula e sua biografia. O tucano colocou seus ministros e
embaixadores para abrir caminho para os petistas no governo americano.
Foi o medo de uma crise econômica mais grave que uniu os dois rivais em
torno de um objetivo comum: mudar radicalmente a visão dos Estados
Unidos sobre Lula. Deu certo.
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